terça-feira, 5 de maio de 2009

São Luis IX, Rei, Cruzado e Santo


Apresentamos alguns traços da vida de São Luís. Entre outros traços, convém lembrar São Luis como estadista, São Luis como guerreiro, São Luís como homem de piedade.

Primeiro, devemos considerar um aspecto importante da vida de São Luís: São Luis como rei da monarquia orgânica. Ele não foi, nem um pouco, daquele tipo de rei fait néant que abandonava todas as prerrogativas reais nas mãos dos vassalos. Pelo contrário, ele era verdadeiramente cioso do poder real, e se os vassalos procuraram enfrentar ou diminuir o poder real, ele várias vezes resistiu de frente e manteve as prerrogativas reais.

Por outro lado, ele era tão cioso da autonomia dos senhores feudais, dos respectivos feudos, que dele se conta, entre outros, esse pequeno fato: estava rezando na Igreja e, num botequim, perto da igreja começaram a fazer desordem, perturbando sua oração. Então, perguntaram-lhe porque não dava ordens que aqueles botequineiros saíssem e acabassem a desordem.

A resposta dele: mande procurar quem é o senhor desse feudo e a ele diga que reprima esse abuso. Seria tão natural uma ordem direta do rei de França, mas vejam a preocupação de observar em seus graus os condutos feudais, e de respeitar as várias hierarquias que estava debaixo dele, para o bom amor desse organicidade da estrutura feudal, que ele respeitava escrupulosamente, dentro dos limites em que devia ser respeitada.

O que é profundamente diferente de Luís XIV, de Luís XIII, de Henrique IV, para não falar senão deles, pois poderíamos ir até Luís XI, destruidores sistemáticos de hierarquia feudal.

Por outro lado, foi também São Luís que cuidou das corporações, e mandou fazer o assento dos regulamentos dos costumes das corporações, dando estrutura e estabilidade às organizações plebéias, que constituíam as unidades autônomas dentro da plebe, sendo um alentador de toda forma de autonomia em seu reino, dentro do qual ele era o centro de gravidade enérgico e vivo.

São Luís defendeu as prerrogativas da autoridade real, não só contra insurretos de toda espécie mas até contra a Santa Sé. Está em seu processo canonização, foi amplamente estudado, que a Santa Sé, tendo querido fazer ingerências de caráter político imoderadas na França, São Luís resistiu de frente e levou as coisas longe, até obter que essas ingerências cessassem.

São Luís cruzado: devemos lembrar São Luís desembarcando, como descreve Joinville, todo armado, magnífico, o homem mais alto de seu exército, um capacete luzidio, com armadura de ouro; quando sua barca tocou no Egito, ele tinha tal sanha de combater, que ele pulou armado dentro do mar, e à frente de seus homens pulou em terra e começou a combater.

Depois, todos os feitos que realizou nas cruzadas, que o sagraram como um guerreiro perfeito. Isso deveríamos por ao lado do guerreiro ferido, doente, do guerreiro padecente que imita a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, e com isso se torna imensamente venerável. É juntando todos esses aspectos que temos uma imagem adequada do rei São Luís.

Essa imagem nos deve levantar a pergunta: um rei nessas condições é verdadeiramente amado pelo povo? O povo francês compreendia o que era esse rei?

Há uma prova que é verdadeiramente tocante. As moedas da Idade Média são, em geral, caras, mas as mais baratas dentre essas moedas são as do rei São Luís. Porque quando ele morreu, o povo começou a guardar suas moedas, porque tinham a efígie dele, como lembrança e como medalha.

Por causa disso, conservaram-se em incontáveis lares franceses, de maneira que são as mais baratas das moedas medievais, provando o respeito e veneração dos franceses pelo seu rei.

Isto indica bem que a virtude quando bem praticada, quando vivida de um modo autêntico, só pode produzir no povo uma reação boa e se não produz uma reação boa, é porque o povo não presta.

Oração a São Luis Rei



Aqui temos uma linda oração do Condestável Du Guesclin, companheiro de santa Joana D´Arc – portanto, muito posterior a São Luís – feita a São Luís:

“Guardai-me puro como o lírio de vosso brasão, vós que mantínheis vossa palavra mesmo dada ao infiel, fazei que jamais mentira passe por minha boca, ainda que a franqueza devesse me custar a vida. Homem de proezas, incapaz de recuos, cortai as pontes para os meus fingimentos e que caminhe sempre para o ponto mais duro do combate".

"Guardai-me puro como o lírio de vosso brasão". A castidade do guerreiro católico.

“Vós que mantínheis vossa palavra, mesmo se dada a um infiel, fazei que jamais mentira passe pela minha garganta, ainda que a franqueza devesse me custar a vida”. Quer dizer, a verdade deve ser dita mesmo diante dos mais fortes e ainda que custe a vida, mas não mentir por medo de ninguém.

Ainda que minha vida esteja ameaçada, direi ao forte que me oprime a verdade inteira. “Homem de proezas, incapaz de recuos” – era o voto do cavaleiro que nunca recuava em batalha – “cortai as pontes às minhas acomodações, e que eu sempre marche para o mais duro”, é o mais duro da batalha, mas também o mais duro em tudo; o mais duro da vida, o mais duro em todas as situações.

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